sábado, 2 de julho de 2011

Modernismo e a Questão do Regionalismo



Neste trabalho faremos uma breve análise de duas obras literárias que apesar de serem escritas em países com realidades diferentes, retratam uma fase modernista e o regionalismo. Uma delas é o grande expoente da literatura brasileira, Vidas Secas de Graciliano Ramos, a outra é As Vinhas da Ira de John Steinbeck.
Graciliano Ramos, na obra Vidas Secas, retrata um assunto de suma importância, publicada em 1938, o texto conta a história de uma família de retirantes sertanejos que levava uma vida sofrida em consequência da seca. Eles eram obrigados a deslocar-se em condições desumanas em busca de lugares que fossem menos castigados. Esta obra, sem dúvidas está entre os livros mais importantes da literatura brasileira tendo ganhado vários prêmios, dentro e fora do Brasil e considerada uma leitura obrigatória nos vestibulares das maiores universidades do país.
A obra As Vinhas da Ira de John Steinbeck, conta a história de uma humilde família que é obrigada a abandonar o território que ocupava e migrar em sentido a Califórnia devido as secas dos campos de algodão, tempestades de areia e o avanço tecnológico. As Vinhas da Ira é considerada uma obra-prima da literatura americana, um retrato fiel de um conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm.
Dois autores em países e realidades diferentes tratam a problemática dos imigrantes como tema principal em suas obras. Além da migração como semelhança outro fator também chama a atenção, é o fato das obras terem sido publicadas na mesma década, meados de 30. Percebe-se que tanto o Brasil quanto os Estados Unidos passavam por mudanças políticas e sociais. Os livros trazem muito mais que a história de uma família, essas obras se tornam o grito desesperado de populações esquecidas vivendo em realidades desumanas e que infelizmente continuam atuais.  

*Trechos relevantes

               Em As Vinhas da Ira o personagem principal Tom Joad, volta para casa após sair da prisão e reencontra a sua família preparada para abandonar a sua terra em Oklahoma devido às fracas colheitas e a ocupação dos verdadeiros donos, possuidores de mais poder e maquinário. A família não vê alternativa a não ser seguir rumo a terra prometida da Califórnia. Durante o percurso, a família encontra com outras, que seguem na mesma direção em busca de trabalho e bons salários.
               Em Vidas Secas, Fabiano, Sinhá Vitória, dois meninos e uma cadela chamada Baleia, fogem da seca do sertão nordestino. Durante um caminho que parece interminável, os personagens passam por várias dificuldades, entre as quais, a fome e a sede. Em certo momento do texto, os retirantes encontram uma casa que parecia abandonada, mas logo chega o dono, para quem Fabiano oferece seus serviços. Após um período na fazenda em uma manhã bem cedo a família ganha a estrada continuando a busca por um lugar que traga felicidade a Fabiano e sua família.

*A razão do êxodo em cada obra

Na obra de Graciliano Ramos o êxodo é dado devido à seca, os personagens buscam um lugar que possa suprir as necessidades básicas para uma vida mais digna.
Em As Vinhas da Ira de John Steinbeck, os personagens também vêem na migração uma possibilidade de uma vida melhor. Terra, trabalho, alimento são objetivos almejados nesta obra.
Observa-se em ambas as obras, que os agentes causadores dá má condição de vida se referem onde eles vivem, lugares inóspitos e falta de propriedade são motivos de extrema relevância na razão do êxodo.

*Os valores da família

Em ambos os livros existem a figura matriarcal. Em Vidas Secas, apesar de todas as dificuldades a família se mantém unida.
Em As Vinhas da Ira os homens são mais amargurados pelas dificuldades que viveram, o que faz a família não deter um laço afetivo tão forte, os momentos difíceis contribuíram para um distanciamento afetivo mais notável nesta obra.

*A morte

Nas duas obras os personagens arriscam-se em busca de uma vida melhor, a morte os acompanha junto à vida sofrida e a aventura de conviver com o inesperado. Em As Vinhas da Ira o autor não se rende ao final feliz, nem a preservar os valores do sonho americano, pelo contrário ele fragiliza e descreve em detalhes sentimentos guardados a sete chaves como; medo, incerteza, rancor miséria e corações amargurados. O trecho em que Tio John recebe a missão de enterrar o filhinho recém-nascido de Rosa de Sharon, mas como protesto resolve colocar o bebê no leito de um rio para que o fluxo da água mostre aos seus inimigos o crime por eles cometido.
Em Vidas Secas, a luta pela sobrevivência, a falta de água e a fome é uma constante. Por esse motivo acabam se alimentando de seu próprio papagaio, no entanto a morte do outro animal de estimação a cachorra Baleia, é tratada com sofrimento e sentimento de perda, pela humanização que o autor atribuiu a cachorra. Ela era considerada um ente querido e sua perda abalou a família.

*O desfecho

Se alguém espera no livro As Vinhas da Ira surpreender-se com um final contrário a todo seguimento sofrido da história engana-se, pois John Steinbeck  leva o texto com realismo do início ao fim. Um desfecho marcado por uma enchente que como se não bastasse, leva o pouco que restava a família de Joad embora. Para se proteger da enchente eles entram em um galpão e encontram um garoto e seu pai que está mal, pois não se alimenta a dias, em um gesto piedoso Rosa com os seios cheios de leite, que deveria amamentar seu filho que morreu, oferece o alimento materno a boca de um estranho. O gesto mostra a dignidade humana sem limites, mesmo vivendo como animais largados com fome, nada justifica uma impossibilidade de salvar aquele homem. São valores perdidos por uns e conquistados por outros.
Vidas Secas acaba com Fabiano e sua família mudando-se mais uma vez com a mesma incerteza de sempre, com fome e sede, mas com a gigantesca esperança de dias melhores.  

*Conclusão

Duas ficções que retratam a busca constante por melhores condições de vida, que envolvem famílias amarguradas por motivos que até elas desconhecem. Nasceram em determinado lugar e situação, que infelizmente é desprivilegiada. São obras de autores de realidades diferentes, mas que mostram o assunto como um tema global. Obras antigas que continuam atuais exibem com clareza a ganância, o descaso por parte de uns e a esperança e solidariedade por parte de outros. Opostos que são universais, cada escritor com sua realidade, cada personagem com sua peculiaridade, mas ambos buscam mostrar uma realidade dura de seu país. As visões de mundo dos autores estão claras nas obras, eles tentam remeter o leitor à situação de seus personagens, buscam fazer com que o leitor sinta toda a miséria e sofrimento que é contada em detalhes na obra americana e explícita por frases curtas que traduzem a objetividade do autor em expressar a seca de quem vive no sertão, na obra brasileira.


Autores: Luciana A. de Macedo Gomes e Paulo José de Oliveira.

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